Quase ao mesmo tempo, começou a discussão sobre o que fazer com o lixo em São João. O anúncio de que a Câmara votaria um projeto de Aterro Sanitário, a ser feito pela Sabesp e que enterraria o lixo de São João e de quem mais se dispusesse a pagar para a Sabesp enterrar o seu resíduo (por 30 anos, renováveis por mais 30 anos) foi feito pelo Presidente da Câmara no dia 27 de junho, à 1h da manhã. O assunto já tinha sido debatido no grupo, mas sem grande conhecimento. No mesmo dia, membros do Grupo e também da ONG Viva São João, de posse de uma filmadora, foram à Câmara e os vereadores, por unanimidade, não rejeitaram o projeto mas o devolveram à Prefeitura para uma melhor análise.
Sem o projeto da Sabesp a pressão sobre os vereadores e sobre todos os que tinham se posicionado contra foi grande, uma vez que o aterro atual já estaria vencido e a Prefeitura dizia que a partir de outubro passaria a enviar lixo para Paulínia – o que ainda não aconteceu.
A discussão começou a aumentar no Fala. Diariamente, pessoas buscavam e encontravam soluções que poderiam ser aplicadas em São João. Em 12 de julho, aconteceu uma reunião na Câmara, convocada pelo presidente Francisco Arten, com a presença de membros do Grupo, da Ong, vereadores e da vice-prefeita Elenice para tentar resolver o impasse.
Nascia a ideia de fazer um Fórum do Lixo, trazendo para a cidade especialistas de diversas áreas. A construção do Fórum foi toda feita dentro do Grupo Fala São João, com equipes e grupos temáticos. Houve debates, troca de informações e uma comissão formada por integrantes do grupo e outros membros da sociedade civil, além de Câmara e Prefeitura conseguiu fazer, nos dias 21 e 27 de agosto o Fórum do Lixo. Do Fala São João formaram a Comissão Organizadora: eu, a Malu Borges, a Rosana Castilho, o Cristiano Censoni, o Miguel Sguassábia, o Marcos Peres ( que anda sumido). A este grupo somaram o Marquinho, do Grupo Ecológico Maitan, o Joaquim Fernandes e Ana Lúcia Tarifa, que haviam participado do assunto na Câmara, além do vereador Arten e da vice Elenice. A Ong que participou de várias reuniões para a formação do Fórum, optou, por sua característica de controle, participar sem tomar parte na organização.
Por ai, as discussões ficaram mais acaloradas e muitos dos que estavam no início deixaram o grupo. Alguns para se centrarem no Salve Águas da Prata, com aquela cidade ameaçada pelo plantio de Cana de Açúcar.
O Fórum foi um retumbante sucesso, com a presença de especialistas de diversos pontos do país. Todos vieram para cá sem cobrar nada, apenas em troca de estadia, passagens aéreas e alimentação que ficou a cargo da Prefeitura, IPEFAE e UniFeob. Vale destacar o apoio do UniFAE durante e depois da realização do Fórum, dos professores e, em especial da professora Fátima Ribeiro que tornou-se membro da comissão além do reitor Valdemir Samoneto, que tudo fez para que o Fórum acontecesse.
Do Fórum saiu a Carta do Lixo, uma carta-referência sobre como deve ser norteada a Política de Resíduos Sólidos na cidade. A Carta foi entregue ao prefeito no último dia. O alcaide municipal acompanhou toda a discussão. E nos raros momentos de ausência estava lá a vice Elenice. Foi uma prova de apoio e de respeito ao que estava sendo feito, que surpreendeu os mais céticos. A maior contribuição da Carta foi a de garantir a feitura de um Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos referendando a importância da participação popular na sua elaboração e implantação e tendo a reciclagem e a educação ambiental como pontos centrais do projeto.
Da Carta nasceu o Comitê, formado por representantes da sociedade civil, que manifestaram interesse em participar e que foram nomeados pela Prefeito sem nenhum óbice. O Comitê tomou posse em outubro e rejeitou um Termo de Referência elaborado pela Prefeitura para contratar o Plano. Agora aguarda que um novo Termo seja apresentado para que o próximo ano conte com um projeto novo.
Agosto, além do Fórum, trouxe o intenção da Abengoa de plantar cana, em Águas da Prata. Foram semanas de debates que culminaram na recusa do projeto do Prefeitura de lá, disciplinando o plantio, a feitura de um show com artistas de São João para sensibilizar a população, a empresa e os vereadores e uma linda música do Zé Fernando Entratice, falando da “água que cai da pedra”, que embalou todas as discussões.
A população da Prata, com a ONG Guará à frente fez bonito mobilizando a população em torno de um abaixo assinado e lotando a Câmara nos momentos cruciais. O resultado foi a decisão da empresa de não plantar mais cana em Águas da Prata. A decisão foi tomada, em definitivo, em audiência pública no dia 31 de agosto, na sede da Fiesp, na presença de um auditório lotado e de membros do Conselho Estadual de Meio Ambiente que puderam ouvir do Diretor Rogério Ribeiro de Abreu dos Santos, que em respeito á comunidade e obedecendo o zoneamento da Cana estabelecido na Resolução 88 da Secretaria de Meio Ambiente, a Abengoa não iria mais tocar nenhum projeto de plantio de cana na Estância.
Nenhum político, nem de São João, nem de Águas da Prata participou da Audiência. Aliás, nem um Secretário, Diretor, vereador e nem mesmo um membro do Judiciário estiveram por lá. Foi uma vitória bonita, do povo que participou lotando o plenário, aplaudindo e vaiando e dos alunos do Curso de Engenharia Ambiental, da Unesp de Rio Claro, que viajaram para “acabar” com o EIA RIMA da empresa, esmiuçado em sala de aula.
Quando os dois assuntos estavam sendo discutidos foi que o grupo viveu seu momento de maior perigo, com discussões acaloradas e a chegada de pessoas que não tinham – e não tem – a menor noção de como devem ser as ações e decisões tomadas em grupo, houve uma debandada com pessoas magoadas por receberem críticas mais ácidas.
Foi neste momento que se resolveu eliminar o grande número de administradores - eram mais de 30 – reduzindo a três: a Clara, eu e Jabur. A decisão – ainda que eu tenha sido voto vencido – mostrou-se acertada porque trouxe um pouco de ordem ao caos que se instalava e nós começamos a moderar com mais vigor algumas situações e ponderar algumas discussões.
Com isso houve uma medida saneadora que apaziguou os ânimos por algum tempo e o grupo foi construindo uma identidade.
Setembro chegou e ao invés de chuva trouxe queimadas e problemas de trânsito para o grupo. O Zé Jabur fez uma cobertura quase “ao vivo” do pior incêndio na Prata, que chocou a todos no fim de setembro. O grupo esteve atento, ainda, há muitos outros incêndios. Polícia e Cetesb foram acionados. A avenida Oscar Pirajá ganhou faixa para pedestre e redutor reivindicados por postagens no grupo. Destaque para a participação corajosa da Diretora de Planejamento da Prefeitura, Ana Laura Zenun, que se posicionou e defendeu a prefeitura e seu ponto de vista.
Outubro foi o mês do Verde no Fala. Primeiro o Bosque Gavino Quessa, trazido pelo Rui Souza. Depois o corte do Flamboyant, em plena Avenida Dona Gertrudes. Houve verdadeiros duelos verbais entre os membros do Fala e as explicações somente expuseram a falta de preparo do setor responsável na Prefeitura.
Novembro chegou com uma ação intensa em torno do cemitério. Membros do Grupo aproveitaram o Finados para pedir segurança para o Cemitério. Foram eles: Clara Gianelli, José Fernando Entratice, Ezequias F Araújo Junior, Claudia Sarti, Marta Rodrigues, João Batista e Cristina Cornélio. O abaixo assinado foi entregue no dia 21 de novembro e teve a firme proposta da vice-prefeita – então prefeita em exercício – de que a segurança será contratada. O processo está em andamento e a Prefeitura está licitando os seguranças. Enquanto isso, uma equipe já contratada segue a fazer o serviço em sistema emergencial. A mobilização teve direito a reportagem na TV, matéria em jornal e o Zé Fernando Entratice, discursando, na Tribuna da Câmara.
A questão do Cemitério, no início de novembro, surgiu como um divisor de águas no grupo e foi um momento delicado, com discussões mal colocadas e inimizades gratuitas.
Mas foi no calor deste embate, que o grupo começou a discutir o que gostaria de ver em suas páginas, que tipo de postagem fazia sentido e quais eram os propósitos do grupo.
Com isso houve uma nova medida saneadora. As gracinhas migraram para outros lugares, alguns se auto-defenestram e muito outros que haviam saído em função de posts que giravam em torno de egos, voltaram e, melhor, ficaram. Políticos que pretendiam usar o grupo como trampolim também partiram quando perceberam que falavam a ouvidos mocos.
Mais maduro e mais centrado, o grupo cresceu em quantidade e qualidade. Pessoas que até então estavam quietas começaram a falar, a se posicionar. Já algumas que até então só tratavam de floricultura passaram a dar sua opinião de uma maneira mais enfática. As sequências vitórias fizeram com que o grupo ganhasse coragem coletiva.
Foi um desabrochar que foi crescendo e fez com que dezembro fosse um mês recorde em postagens.
Mas ainda em novembro outras coisas aconteceram. No dia 15, José Evangelista de Almeida Neto, fez o que eu pude localizar como o primeiro post sobre o estacionamento irregular na praça da Catedral nos horários de celebrações religiosas. Os motores começaram a roncar...
No dia 19, quando o escriba Lauro Bittencourt , voltou ao assunto mostrando fotos dos carros sobre a praça, a polêmica ganhou corpo. Com 210 comentários foi um dos posts que mais rendeu, senão, o que mais opiniões reuniu, num único lugar. Os debates foram grandes, como só o podem ser neste grupo. Mas foi um novo post da capitã Josiani, que colocou fogo na fogueira ardente das paixões inflamadas, convocando a todos os presentes para uma reunião no Conseg para discutir o assunto... Infelizmente o post foi apagado e grande parte da primorosa discussão sobre os limites de atuação da polícia e da democracia, se perdeu.
Porém, restou claro que a comunidade queria a praça como praça e não como estacionamento e já no final do mês a polícia começou a autuar os carros. Assim, o “Fala...” conseguiu o que a Prefeitura já tinha tentado, assim como diversos veículos de comunicação, mas que esbarrava sempre no poder insofismável da Igreja e na falta de um mediador que apontasse todos os lados. Destaque também para a Capitã Josiani e o comando da PM que ouviram o clamor da sociedade e colocou na mesma mesa Prefeitura e Igreja para buscar uma solução. Jornais e TVs noticiaram e até hoje o assunto rende, rende e rende e há sempre faladores vigilantes a apontar o estacionamento indevido e descuidado nas portas da nossa Igreja símbolo, não hesitando em acionar a polícia se necessário.
Dezembro chegou com uma notícia de que a Prefeitura iria desapropriar o CRS. Nossa foi uma explosão! Em diversos posts, sob diversos aspectos, a ideia foi bombardeada por todos os lados. Seja do ponto de vista pedagógico, seja pela lisura e transparência da ação, seja para discutir como a Prefeitura chegava ao fim do ano com uma sobra de R$ 2,5 milhões que tinha que ser gasta com educação sob pena de embargos de verbas futuras...
O resultado foi que a Câmara rejeitou a compra do CRS, mas autorizou o uso do dinheiro na aquisição de qualquer outro prédio que não seja clube...
Na sequência veio a retomada do Maitan, a defesa das Figueiras e do Sítio das Macaubeiras, com defesa apaixonada do Maércio Mazzi, a invocar deuses ancestrais na proteção da cidade e fotos memoráveis da Clara Gianelli, incansável defensora das paisagens naturais. Uma nova mobilização se deu, com o apoio de novos atores que até então, acompanhavam as discussões ao longe... Ofícios ao prefeito solicitando a preservação das áreas foram feitos e o Condephic recebeu pedidos de tombamentos das duas áreas.
Houve ainda as denúncias de faixas e placas de proibido estacionar em lugares onde parece não haver tal necessidade e que culminaram na feitura de um ofício entregue pelo cavalheiro João Batista no dia 23 de dezembro e subscrito por: Maria Isabel Pereira, João Batista Gregório, José Fernando Entratice, Antonio Gregório, Samir S. N. Filho, Heliana Maria Ciacco Gregório, Cyro Sanseverino, Maria Silvia Torati Cassini Gregório, Marcus Vinicius Vianna, Luís Guilherme Bittecourt Borges, Mateus Salvi, Lauro Augusto Bittencourt Borges, Yvonne Rocha Silva Palhares, Andre Hentz, Clara Gianneli, Elaine Francioli, Rui Souza, Ezequias F. Araujo Júnior, Maria Silvestre, Cristina Aparecida Cornélio, Marcelo Abreu de Jesuz.
Agora está na pauta da semana, as enchentes e o piscinão. Mas estes são apenas as grandes discussões. Não dá nem para dizer que são elas que fazem o Fala. Porque isso tudo nada seria sem as músicas do Jose Fernando Entratice, as receitas e as dicas de Português do João Batista, do urbanismo pensador do Rangel Quessa, a solidariedade inconteste da Cristina Cornélio, as estrelas do Dulcídio Braz, a sapiência e senso de oportunidade do Cyro Sanseverino, a intervenção sempre ligeira dos “meninos do jornal”: o Reinaldo, o Zara e o Ignácio que anda sumido lá em Pira, as fotos do Udo Frederico Nalli Matiello e da Sylvia Ferrante, a sabedoria do Samir S. N. Filho e a disposição para a luta do Antônio Gregório, o dom de apaziguar e botar fogo na mesma frase, do Zé Jabur, as ponderações sempre bem colocadas da Marta Salomão ( tá sumida) e da Yvone Palhares, a acidez do Miguel Sguassábia, o lamento pelas árvores que caem, expressas pela Rosinei Diogo, a constância da Rosana Castilho e da Rosangela Nogueira, a posição vanguardista, descolada e intransigente do Cristiano Censoni, os comentários sinceros da Malu Borges, os textos deliciosos do Lauro Bittercourt, as preocupações com os bichos e as florestas, com o planeta, com a água, com as crianças ( né Eliana Pelozzio dos Reis), o rigor do Guilherme Marson Junqueira e do Fernando Quinzani, a moçada do Paintball e o pessoal da bike do Pedal Educa, o carinho da Luiza Albuquerque além de muitos, mas muitos outros, que com certeza vocês me perdoarão por que a idade vai chegando e a memória já não mais a mesma...
Todos, anônimos ou não, que aqui encontraram um espaço para se colocar, para dizer o que pensam, sintam-se acolhidos e abraçados. Cada um de vocês faz parte desta história. E quero, com este post deixar em aberto, outros comentários e lembranças que eu deixei passar...
O próximo ano traz o dever de manter o conflito vivo das ideias, sem que precise haver medo do debate. Quando há calor, está acesa a chama da vida e é neste calor que novas ideias são forjadas. Teremos ainda que manter o desafio que assusta e fascina ao mesmo tempo, que é o de construir um novo jeito de ser na vida e na Política. Mas assim, com P Maiúsculo, longe dos partidos e das querelas politiqueiras.
Vamos contando com este novo jeito, que e desdobra a cada dia em outras possibilidades. Estamos longe de ter as respostas este novo mundo que se descortina e ás vezes, nos quedamos paralisados pelas notícias que vem do Planalto Central, pelas pessoas que torturam os seus animais, pelos dias que chegam e vão sempre iguais. Neste momento pensamos: onde está o novo? Ai lembro do filósofo Eduardo Galeano a vaticinar que existe um novo mundo sendo gerado na barriga deste mundo, esperando. Diz ele: “É um mundo diferente e de parto complicado, não é fácil seu nascimento, mas com certeza pulsa no mundo em que estamos”.
A nós artífices e parteiros deste novo processo, nos resta pegar o “touro à unha” e gritar: Que venha 2012!