terça-feira, 24 de agosto de 2010

Um exemplo que vem de fora

Durante a realização da I ONG Brasil, em dezembro do ano passado, além das mais de 500 organizações brasileiras que participaram, algumas ONGs internacionais vieram mostrar a sua experiência e interagir com as demais ONGs.
O texto a seguir é parte de um dos capítulos do livro que deve ser lançado até o final do ano e que conta a experiência das organizações sociais sem fins lucrativos no país e que transcrevo após ler, no facebook, o desespero e a tristeza que compartilho dos habitantes da linda Águas da Prata que há três dias está queimando, deixando um rastro de animais e árvores mortos em sua matas ainda intocadas. Talvez o trabalho da OXFAM Brasil possa inspirar parcerias e a tragédia servir de alerta para que finalmente se crie uma Brigada de Incêndio no local.
Todo ano pega fogo. Sempre nos mesmos lugares. Sempre de forma criminosa. O deste ano foi pior. Mas não será o último. Cabe agora às autoridades e à sociedade civil organizada criar mecanismos de prevenção e controle.

“...Representada na ONG Brasil por Athayde Motta, gerente do programa no Brasil, a OXFAM/GB foi fundada na Inglaterra na década de 40 teve sua raiz na ajuda humanitária, ligada às tragédias. Em especial, o que motivou a criação da entidade foi uma crise de fome na Índia. O nome da organização já traz esta marca: “OX” como uma alusão à cidade de sua fundação, Oxford e “FAM”, de fome. Em seus primórdios, a organização funcionava como um comitê, para ajudar na fome na Índia. A organização é muito conhecida na Europa graças, sobretudo, às 700 lojas tipo brechó, de onde vêm a sua principal fonte de financiamento.
A OXFAM logo se espalhou dividindo-se em 14 instituições que atuam em 60 países. O método de trabalho se multiplicou, com cada organização tendo um programa e um orçamento. Cada unidade é independente e se afilia à OXFAM Internacional, que faz as campanhas globais. Agora, todo o foco internacional está nas mudanças climáticas.
No Brasil a OXFAM/ GB atua há 50 anos. Atualmente a sede está em Recife. Em Brasília tem um escritório de OXFAM Internacional que une as três OXFAM que atuam no país: A OXFAM/GB, a OXFAM Novib, a OXFAM Intermon. O escritório em Brasília só faz influência em políticas públicas.
No Brasil, umas das áreas de atuação da OXFAM/ GB é na questão humanitária. Têm equipes, treinamento, programas, caminhão, barco, água e sistemas de ajuda. “Quanto maior a tragédia, mais recursos a OXFAM coloca na ajuda. E ajuda técnica. Quando precisa tirar pessoas de escombros, precisa ser técnico, não adianta mandar qualquer pessoa para ajudar”, conta Athayde.
Prova maior de quão técnica e preparada é a instituição e o quanto isso se faz necessário, é a ajuda fundamental oferecida pela organização, nos recentes terremotos do Haiti e do Chile.
A outra parte pela qual a OXFAM é muito conhecida no país é advocacy (campanha). São ações de Direitos Civis sobre temas da atualidade com vistas a influenciar governos e legisladores e propor políticas públicas. No Brasil, a organização atua na campanha de mudanças climáticas, a favor do desarmamento e do comércio justo e solidário.
A outra área é a de programas de desenvolvimento. “A idéia é fazer com que as três áreas atuem juntas, se relacionem e se influenciem uma à outra”, diz Athayde.
No Brasil há ainda um programa humanitário. “Todo ano tem desastres que precisam de respostas humanitárias. A OXFAM atua em alguns estados onde mobiliza comunidades para que possam se recuperar do desastre, incentivando a produção de políticas públicas, para que haja uma boa resposta a estes fatos”, conta.
O cenário no planejamento de ações
Um dos cenários do qual parte o planejamento das ações da OXFAM é que o mundo está mudando de diversas formas. Como qualquer mudança, ela traz no seu bojo coisas boas e ruins. “Uma coisa boa é que Brasil está saindo do patamar de país pobre, para um país de renda média. A ruim é que o Brasil está saindo do patamar de país pobre para um país de renda média, que continua com grandes bolsões de pobreza. Por isso o trabalho da OXFAM e de outras organizações continua tão importante”, ensina Athayde.
As mudanças climáticas, a escassez de recursos e a crise econômica global, configuram cenários mais amplos e fazem com que haja uma maior desigualdade e vulnerabilidade no mundo. No Brasil, os pobres continuam muito pobres.
A OXFAM vem discutindo com o governo e outras organizações, a criação de um programa de redução de risco de desastres, como a principal política pública brasileira.
São medidas que atuam de um lado na prevenção e no outro para que, se o desastre acontecer, que tenha um impacto pequeno. “Todo mundo sabe que vai chover. Chove todo ano. Chove no mesmo lugar e só aumenta o número de vítimas. É preciso minimizar ao máximo possível os danos, tanto econômicos, quanto de vidas. Queremos atuar nisso como prioridade. Há áreas que requerem mudanças estruturais, de saneamento, de moradia, mas também é importante que as comunidades estejam prontas para atuar num desastre”, diz Athayde.
Pode-se dizer que as ações da OXFAM são catalizadoras, mobilizadoras, influenciadoras e organizadoras. Ela faz o papel de intermediária entre a sociedade civil e o governo, com vista a gerar Estados eficazes para enfrentar a pobreza. Pretende-se com isso, gerar maior igualdade e melhor governança, entendendo-se com melhor qualidade do governo.
A OXFAM não opera nada diretamente. Ela faz parceria com outras organizações que executam as tarefas. No Brasil são 25 parceiros, da OXFAM/GB. “

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Por uma reforma política já!

Assisti ao debate da Band e do Uol e vi o primeiro dia de propaganda eleitoral – inteiro e sem cortes. Em todos fiquei com uma sensação tão ruim que me fez vir para cá e desabafar. O que aconteceu com a política brasileira? Em que ponto os caminhos ficaram tão parecidos que são indissociáveis? Onde foi parar o interesse e a veracidade?
A eleição parece envolta em uma névoa, como se pertencesse a um universo paralelo, sem conexão com a realidade, com o dia-a-dia das pessoas. Tudo tão raso, tão marketeiro, que não sei se o pior era o musical na favela virtual do Serra, que agora é Zé, ou o fundo falso do Oiapoque ao Chuí, de Dilma com sua maquiagem perfeita e sorriso de botox... Ou ainda se seria a tristeza cômica, com um humor chulo e barato para ser vendido em módicas fatias e fazer sorrir, quando deveria provocar o asco... Nem a Marina escapou com aquele programa recém saído da Discovery Channel, com imagens internacionais, como se aqui nunca tivesse acontecido tragédias climáticas e fosse preciso assustar ainda mais o povo do que ele já está.
Nos debates o cardápio é uma sopa de letrinhas -Prouni, AME, Enem, LRF - que combina com a “farofa de números” que os candidatos apresentam muitas vezes multiplicados e adicionados e falseados e nada de nada...
Fico imaginando os grandes mestres da política neste cenário. Gente da estatura de um Franco Montoro, de um Tancredo Neves e também gente anônima que viu os seus sonhos morrerem nos porões da ditadura militar... Gente que fez da vida uma luta pela conquista de direitos e que lutou para que tivéssemos agora o direito de debater, votar e escolher livremente os nossos representantes...
Tanto esforço e o resultado é isso?
Sou uma otimista incurável. Tenho fé nas pessoas e gosto do ser humano, de maneira geral. Vejo o fosso que separa os que pensam daqueles que votam com o rugir dos chicotes que alardeiam a seu tempo a paz ou miséria, como melhor convém. E o nosso sistema eleitoral só perpetua isso.
E sempre o céu ou o inferno. A eterna luta do bem e o mal...
No primeiro dia, o cardápio oferecia três realidades distintas: o Brasil bonito e perfeito de Lula; o Brasil cheio de problemas de Serra e o respiro no Animal Planet da Marina.
Nenhum deles é verdadeiro. Nenhum deles é o “Brasil dos brasileiros.” Nenhum deles mostra os problemas reais e o povo é que sairá com a pecha de “culpado” porque os mais sinceros parecem ser o Tiririca, a mulher Pera, o não sei o que Bisteca e, claro, o marido da Mara Maravilha, quando, na verdade eles também são frutos da mesma máquina eleitoral que fabrica candidatos.
O site do Tiririca é coisa de profissional. Tem mídias sociais, interatividade e é pensado para ser popular, com cores vibrantes, muita imagem e pouco texto. Ele faz visita às cidades, não está brincando de ser candidato. É candidato de verdade e tem agenda de compromissos. O que ele não tem: proposta. Mas parece que ninguém liga para isso mesmo.
A primeira vez que eu vi a mulher pêra foi a cerca de dois anos. Foi em um evento na Prefeitura de São Paulo e quando vi aquela mulher com a cintura deformada, vestida de chapeuzinho vermelho (ela estava com uma capa vermelha que encobria uma mini roupa verde e carregava uma cestinha com frutas) achei que era um happening. E fui cobrar quem é que tinha inventado aquilo. Até que fui informada de quem era a dita cuja e soube que o fato dela estar ali era um termômetro de sucesso – sinal de que as televisões viriam. Não demorou muito e as TVs apareceram e ela deixou a capa cair, para espanto e quase enfarto de alguns homens presentes... Pois bem, ela também tem site e agenda. Só não tem...propostas ,mas parece que é dispensável mesmo.
A única solução é uma reforma política. Já. Com voto distrital, sem obrigatoriedade de voto e sem doação “por fora” de empresas e pessoas.
A obrigatoriedade dos votos nos torna refém deste estado de coisas. A propaganda é direcionada aos indecisos, aos que nem lembram em que votaram. A propaganda serve aos que decidem a eleição: a massa de manobra.
Sem o voto obrigatório, o universo político seria outro...