Nos últimos anos, houve uma explosão no número de organizações sociais que atuam no Brasil. Com a expansão veio a concorrência e, com ela, a necessidade de profissionalização.
A compaixão e a solidariedade, que até então eram os únicos motivadores para o financiamento das ações sociais, foram substituídos, paulatinamente, pela busca de resultados eficientes e de incentivos fiscais, para empresas e demais doadores.
O resultado é que as organizações sociais tiveram que se adaptar ao novo modelo de gestão, imposto de um lado pela iniciativa privada, com suas planilhas, projetos de curto e médio prazo e de outro pelo Poder Público, que vendo o crescimento do segmento, passou a fazer renúncia fiscal, beneficiando os investidores sociais com deduções no imposto de renda, mas exigindo prestação de contas da aplicação do dinheiro.
Com isso,o financiamento das ações que até então era uma ação particular entre a organização social e o doador, ganhou status de “dinheiro público”, sofrendo toda sorte de exigências à luz da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Hoje, a organização social apta a receber dinheiro fruto de doações que tiveram dedução do imposto de renda, tem que responder a uma mesma burocracia que qualquer outra grande empresa privada que contrata com o poder público.
Mas não foi só o modelo de financiamento das ações sociais que mudou. Outras mudanças vieram neste esteio. Primeiro foram aquelas elencadas a partir do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, cujos efeitos revolucionários continuam a ser sentidos até hoje, quase 18 anos depois de sua criação e que mudou o olhar sob as crianças e adolescentes que passaram a ter identidade própria.
Depois, as alterações ocorridas no seio da sociedade, que se tornou cada vez mais complexa, cada vez mais consciente das suas diferenças, com grupos reivindicadores da sua identidade a clamar por respeito, com acontece com os negros, os homossexuais, os deficientes, os jovens, as mulheres, os idosos e os deficientes.
Juntem-se a este caldeirão, as novas tecnologias de informação, as redes sociais, os modelos não lineares de gestão e a preocupação com o meio ambiente e temos, hoje, um cenário muito diverso daquele em que muitas das organizações sociais foram criadas e onde o modelo de atuação foi esboçado.
Com isto, as organizações tiveram que se “reinventar”, não apenas para sobreviver, mas também para atender à demanda cada vez mais crescente, interativa e diversa que a sociedade apresenta. Foi, principalmente da iniciativa privada,que veio o novo modelo de organização social e com o novo modelo a idéia de profissionalização das entidades sociais.
Mas o que implica profissionalizar uma iniciativa social? É investir na capacitação de gestores e coordenadores? Contratar experts da iniciativa privada? Adaptar para o terceiro setor modelos bem-sucedidos de outros setores? E como essas mudanças afetam a própria organização social que pretende se profissionalizar? Como se mede o impacto social do trabalho desenvolvido?
Não há respostas únicas a estas indagações. O que há são impressões e um “modo de fazer especial”, que cada organização foi buscar para dar conta do desafio.
No entanto, não foram todas as organizações que conseguiram desenvolver-se com a mesma desenvoltura. Hoje há um verdadeiro fosso a separar as organizações que deram um salto de qualidade em seus processos de gestão e de atuação e outras que por falta de informação ou de pessoal ficaram paradas no tempo.
Em comum, ambas mantém os valores de solidariedade e amor ao próximo, que as motivam a, todos os dias, buscarem respostas para os problemas que se apresentam e com isso, desenvolvem novas tecnologias sociais que acabam por ser, em primeira análise, novas soluções para os mesmos problemas.
Esta miscelânea de saberes que é a cara do Terceiro Setor foi o que buscamos trazer para a Ong Brasil, feira realizada no final de 2009.
De um lado, temas técnicos e específicos foram abordados em mini-cursos, para que a semente da necessidade de uma gestão moderna e eficiente fosse germinada. De outro, colocamos na mesma mesa profissionais, especialistas, voluntários e gestores das organizações para que, juntos, discutissem os caminhos, as dificuldades, os desafios e as conquistas do Terceiro Setor. Em reuniões plenárias chamamos o Poder Público, a Iniciativa Privada e o Terceiro Setor para que juntos pudessem refletir sobre a importância da consolidação deste tripé que sustenta a administração moderna.
Foram três dias de pura emoção e aprendizado, onde, de uma colcha de retalhos, aos poucos, foi se delineando a nova “cara” do Terceiro Setor. Uma face que estava oculta nos afazeres diários e agora busca luz merecida para propor novas discussões que podem redundar em políticas públicas de inclusão social.
É esta experiência, que procuramos sintetizar na presente publicação. Não há nenhuma pretensão acadêmica, nem conceitos fechados. É apenas uma contribuição modesta para o debate, que busca democratizar o que foi dito e deixando a porta aberta para que novas discussões sejam formuladas e propostas em muitas outras ONG Brasil que ainda estão por vir.
Maria Isabel Pereira
Leia a íntegra do Livro em: http://telecentros.sp.gov.br/img/arquivos/Livro_ONG%20BRASIL%20WEB.pdf
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