quinta-feira, 7 de abril de 2011

Um grão de amor

Sempre achei que o hino das separações era “Eu te amo” de Tom Jobim e Chico Buarque. Achava e que a frase: “Se na desordem do armário embutido/ Meu paletó enlaça o teu vestido/” revelava de maneira simples, toda a confusão que envolve uma separação. Em que pese os versos perfeitos e imortais de Tom e Chico, hoje o destronei para colocar Gil e seu Drão, no topo das músicas símbolo de separação.
Explico: Por traz de toda gama de paixão expressa em “Eu te Amo”, há é uma teorização do amor. É o amor racional, que pesa, mede e calcula ao dizer que na “bagunça do teu coração , meu sangue errou de veia e se perdeu”... Toda a música é um convencimento racional para não ir-se, para deixar-se ficar...É a separação ainda não consumada, apenas pretendida porque entendida como necessária. Mas ainda não está no ponto. Para ficar no universo musical de Chico, a separação só vai se dar mesmo em “Trocando em Miúdos”, quando pede que “devolva o Neruda que você me tomou e nunca leu” revelando com isso toda a pequenez e maldade que somos capazes quando o amor acaba. Revela as crises comezinhas, as birras, a falta de perdão, o reparo nos defeitos, para concluir, no bater do portão, que já vai tarde...
Já com Drão, Gilberto Gil é todo abnegação, entrega e amor. É um amor maduro, sensato e acolhedor. Começa enfático, anunciando o fim do amor e tentando convencer : “O amor da gente É como um grão Uma semente de ilusão Tem que morrer pra germinar”...Mas no transcorrer, parece mudar de ideia e concluir, sem que nada mais seja dito, que o amor dá frutos, e que na verdade nunca morre, apenas se transforma como alimento para a vida que justifique a “semeadura” feita pelo casal, porque “a caminhada é dura, numa noite escura” e as lembranças serão evocadas e o que aconteceu em “nossa caminha dura” - numa alusão ao colchão de tatame em que ele e a mulher Sandra ( Drão) dormiam não foi em vão, pelo contrário dão subsídios para novas camas e ressuscitam o amor.
Por fim, sem mais argumentos, Gil entrega os pontos e pede que ela fique em paz, ao assumir que não há razão para despedaçar o coração , uma vez que “os meninos são todos sãos, os pecados são todos meus... Não há o que perdoar, por isso mesmo é que há de haver mais compaixão”., lembrando que os 17 anos de união construíram um edifício sólido.
A música é todo um recado de amor, de paz de um amor que se transforma, que só vai para outro lugar, porque o amor é como um grão....”Morre, nasce trigo .Vive, morre pão.”.Lindo. É um amor mais maduro, mais gostoso esse. As pessoas passam pelas nossas vidas e deixam lá uma semente de ilusõa com as quais vamos vivendo e convivendo e regando e replantando.... porque o “amor pode esperar em silêncio , num fundo de armário” como diria Chico e ainda sendo ele, porque não esperar que os escafandristas resgatem um amor submerso, para repassá-lo a futuros amantes?
Para ouvir e rememorar...

http://www.youtube.com/watch?v=-YAQ8fYqtfw

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