Alguns dirão que foi Deus. Outros dirão que foi a intervenção do arquiteto Walter Toscano, cuja missa de Sétimo Dia foi realizada no mesmo momento. Mas o fato é que enquanto o empresário Gilberto Sibin apresentava o seu projeto, no dia 14 de junho, durante a audiência pública, algo mudava em Águas da Prata. Foi chegando mansamente, aparando as arestas de muitas contendas, exemplificando, moldando, emocionando, clamando ao racional e desencravando palavras de ordem há muito esquecidas, para nos fazer lembrar: a cidade nasceu da água.
E não se trata de uma água qualquer. Mas uma água que cura. Uma água cuja pureza foi comparada a de Vichy, na França. Foi por causa dela, que D. Tita de Oliveira construiu um hotel ali, na década de 20. Foi por causa da água que, em agradecimento, um benfeitor depois de curar-se de males hepáticos doou à municipalidade o Cristo Redentor. Foi ainda, por causa da qualidade de suas águas, que o governador Abreu Sodré resolveu dotar uma das suas Estâncias mais antigas com um balneário. E justamente, em função da sua importância, não poderia ser um balneário qualquer. Tinha que ser moderno, arrojado, mesclando linhas retas e curvas, na medida certa para guardar um conhecimento antigo: a água da Prata cura.
Sabiam disso os animais que escolhiam beber água da Fonte Antiga e que foram observados pelo dentista Rufino Gavião. Sabiam disso todos os milhares de visitantes que enchiam os hotéis e frequentavam o seu balneário. Sabia disso a Faculdade de Medicina da USP, que, em 1939 publicou um estudo sobre as águas da Prata, fonte onde Toscano foi beber para indicar quais banhos e tratamentos deveriam acontecer no Balneário, na década de 70.
Sabiam disso, ainda, quase todos os presentes na audiência pública. A maioria de nós crescemos ouvindo isso. Mas, por alguma destas interferências do destino que não nos cabe invocar, perdemos o ouvido para as coisas simples e deixamos de botar reparo no óbvio, no que é a solução natural. Com isso esquecemos que a Prata nasceu da Água, que a cidade existe porque é uma Estância Hidromineral e que o coração de um lugar assim, só pode ser uma catedral, criada para reverenciar as suas qualidades: o seu Balneário.
Foi isso que o empresário Gilberto Sibin levou para a audiência: a vocação natural da cidade. E o fez com a maestria do empresário acostumado a lidar com grandes problemas; com a graça do artista-fotógrafo que não sabe brincar e que é profissional e eficiente em tudo o que faz. Ele provou, na sua vida, que sonho e realidade são uma coisa só. Tudo é questão de foco.
Não há planejamento sem sonho. E não há realização sem planejamento. Durante cerca de uma hora, o empresário foi desmontando todas as dúvidas que teimam em se insurgir quando se apresenta um projeto desta natureza e fez com que um antigo sonho, que habita a alma de todo aquele que mora, frequenta ou gosta de Aguas da Prata, perdesse a timidez e ganhasse corpo: o renascimento turístico da cidade. E isso, em forma de uma projeto de revitalização que contemple a volta do Balneário e que garanta espaço para a arte, a cultura, a educação, a saúde e o entretenimento. Tudo com um único foco: a água.
A maneira de fazer isso já foi testada em São João da Boa Vista: união . Foi assim que a comunidade sanjoanense encontrou uma maneira para salvar o seu Theatro Municipal. Foi através dos seus voluntários que buscaram verbas – José Rubens Blasi, José Marcio Carioca e Vera Adib à frente – que o dinheiro foi achando os cofres do Theatro. Sem contar os demais voluntários que ficavam nas coxias doando tempo, saber, trabalho e muitas vezes dinheiro. O Poder Público fez a sua parte, com os prefeitos, vereadores e o corpo técnico da prefeitura - com Ana Laura Amaral Zenun brigando diuturnamente pela obra - ofereceu todo o suporte para que o sonho de alguns se tornasse realidade para muitos.
Enquanto a memória buscava unir realidade e sonho, um novo Balneário começou a ser lapidado. Surgiu jovem, moderno, com muita força e capacidade. Tudo velho, mas ao mesmo tempo tudo novo, porque possível e repaginado.
Por exemplo: na área dos banhos, porque não incrementá-los com aromaterapia, e uma série de tratamentos que tenham a água como base? Por que não ter um restaurante que forneça comida saudável e de qualidade –quem sabe com produtos orgânicos, para valorizar o produtor local? E por que não, vender cremes, sabonetes e xampus, produzidos com água mineral, fomentando uma linha de produção pratense? Que tal trazer grupos musicais e teatrais para se apresentarem no Balneário? Como irão se beneficiar os hotéis, restaurantes e pousadas da cidade, com um projeto como este? Quantos empregos serão gerados direta e indiretamente?
Por fim, a emoção contida explodiu em aplausos. Longos, calorosos, sentidos, gratos. Os mais emotivos foram às lágrimas. Era o que a Prata queria. E por ser tão simples e tão natural foi expontaneamente apresentado e foi também expontaneamente aceito. Como diria oI Ching, o velho livro de sabedoria Chinês, chegou a hora do “Poder do Grande. Assim o homem superior atravessa a grande água. Boa Fortuna”.
4 comentários:
Bell, o poder e a força das águas podem mudar tudo! Ignácio Garcia Junior.
Lindo texto! Lembro que minha mãe foi a 1ªmédica do Balneário, inaugurando-o, junto com Dr. Damasceno. Viemos de São Paulo, eu e minha irmã ainda adolescentes. Muitas lembranças... muitos banhos... muitas estórias!E a qualidade das águas foi por ela estudada e analisada, comprovando tudo o que vce escreveu. Parabéns a vocês que abraçaram esta causa! Sucesso!
Que bacana Malu, saber que foi a sua mãe a primeira médica... Vocês têm algum registro da atuação dela no lugar? Será que ela prescrevia o uso da água. Se vc tiver algo assim e quiser compartilhar, será mais que bem vindo.Obrigada pela atenção.
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