1.Em que medida trabalhar no jornal foi uma 'escola' para você?
Acho que foi o tempo todo uma escola. A primeira lição de jornalismo, eu recebi na porta do jornal, pelo dr. Joaquim e jamais vou esquecer. Disse ele: “minha filha, você tem que responder cinco perguntas, onde, quando, porque, quem e como. É assim que começa uma matéria”. Eu tinha 24 anos e trazia na bagagem o MTB de Química, um casamento desfeito e dois filhos, o mais velho com 3 anos. Até então eu me atrevia a escrever artigos sobre ecologia - alguns publicados na Gazeta de São João- tinha tido um Hotelzinho para crianças e uma militância político-ecológica que havia culminado na montagem do PV em São João, na Prata e em Pinhal. Apesar disso, eu nem conhecia o O MUNICIPIO!
Embora o Jornal seja centenário, em 1990 ele praticamente não existia. Quando o dr. Joaquim o comprou o jornal , ele vinha de vários donos, que com muita dificuldade o tinham mantido para não acabar, numa crise que se iniciou na década de 70. Quando cheguei, ainda que já circulasse uma vez por semana e começasse uma nova fase, não tinha apelo popular nenhum.
O jornal começou a cair na “boca do povo” com uma série de matérias do “seu” Valter Luhmann, filho do fundador do Jornal.
Em 1991, “seu Valter” que ficara afastado da redação durante décadas, começou a assinar uma coluna intitulada “A Fala do Trono”, que eram sempre dirigidas ao prefeito da época. Era uma sátira ferina que começava sempre assim: “À Sua Alteza Imperial,Primeiro e Unico, Dom Gastão – o Gastador”. O apelido era por causa de um malfadado aumento de IPTU, justificado para dar conta do aumento de despesa. Seu Valter, com a coluna, recuperou a vocação de independência, que seu pai havia lançado - quase que como uma maldição - no editoral de 1906 e que o jornal havia perdido ao longo de anos de uso político entre 50 e 70 e de experiências alternativas de comunicação, na década de 80.
Por volta de 1992, o jornal já era mais “cult” que a concorrência, que tinha o seu forte nas notícias policiais e no número de páginas. Enquanto o O MUNICIPIO fazia edições semanais com no máximo 16 páginas, o jornal concorrente chegava a fazer edições com mais de 30, 40 páginas porque tinha gráfica própria e detinha a conta da Prefeitura para publicar os Atos Oficiais. Não havia como concorrer com isso.
Nós tínhamos que bancar a nossa posição e a única maneira de ultrapassar a concorrência era imprimir o jornal nos mesmos dias que o concorrente, ou seja, às quartas e sábados. Até então, o jornal saía somente às sextas feiras.
Mas isso só foi acontecer em junho de 1998. Chamamos dois consultores: um para a área financeira e outro para a diagramação e confecção do jornal. Eu ficava dividida entre os dois caminhos. Na redação, trabalhava com o Marini – que acho que continua consultor até hoje - e no financeiro com o Ferraz. O Marini era o intelectual, o jornalista premiado, com quem aprendi muito sobre como ser repórter, como editar um jornal, quais os critérios de escolha, a importância da pauta, o que olhar na diagramação...
Já o Ferraz era uma lição de vida. Ele tinha uma sagacidade, que fazia com que descobrisse tudo com um único olhar: Ele vinha uma vez por mês e sabia quem estava apaixonado, quem tinha brigado, quem queria ir embora...Era também uma máquina de somar e dividir e veio para profissionalizar a gestão que era familiar. Juntos eles deram um grande incremento para o jornal.
A edição de quarta foi o desafio maior, porque houve uma “rebelião” da redação, com a saída de dois dos principais repórteres e do diagramador, dois dias antes do lançamento da edição adicional. Foi uma loucura fazer jornal naquela semana. Tínhamos que contratar gente e não tinha faculdade de jornalismo na região. Só conseguimos um mês depois, contratando jornalistas de fora, com anúncio no Estadão e no Correio Popular de Campinas. Mas o jornal saiu na quarta-feira, como previsto, graças à garra de quem ficou. Foi quando aprendi na raça a diagramar. Isso foi logo depois do aniversário da cidade, se não me engano. No mês seguinte era a Copa do Mundo e aproveitando a nossa fragilidade editorial, começamos a fazer a “segunda edição” em carater especial, acompanhando os jogos da seleção brasileira. E contávamos com um colaborador especial: o De Múcio, em sua primeira Copa pela Globo.
Os jogos eram sempre fim da tarde, começo da noite. A internet tinha chegado ao jornal há um ano, mais ou menos. Instalamos um programa para baixar as fotos que iam “caindo” no computador, em tempo quase que real. Para nós era impressionante. Comprávamos fotos da Agência Estado e da Agência Folha. Em uma das capas que fizemos, a foto principal era igual à da capa do Estadão no mesmo dia. Glória total!. Trabalhávamos até de madrugada para fazer isso, mas nos deu agilidade para fazer mais de uma edição, pudemos treinar a distribuição, ver se vendia na banca. Tudo acerto e erro.
Os leitores quase não acreditavam. Publicar as fotos tão rápido ( e fazíamos fotos de meia página) era coisa de jornal “da capital” e trouxe o orgulho da cidade pelo jornal. Neste momento já tínhamos uma boa parceria com a população, mas eu acho que foi aí, que o Município passou a ser reconhecido como algo da cidade, algo do que se orgulhar...
O MUNICIPIO foi pioneiro e inovador e eu tive o prazer de ajudar a fazer cada parte. Foi o primeiro jornal do Brasil a ter o conteúdo na íntegra na Internet, também no final de 1998! A Folha de S. Paulo havia acabado de lançar o jornal on line, mas não tinha todas as matérias e nós aqui, no interior, com a edição na íntegra na rede. Até as propagandas!!!!! Claro que o arquivo da Folha era 100 vez maior que o nosso, mas O MUNICIPIO estava com todas as suas novas edições na rede ( o que nem hoje acontece). Ficamos com a edição na íntegra até 2001. Depois, infelizmente, o material se perdeu com o fechamento da Rantac. 1998, foi o ano de começar grandes matérias. Inclusive denunciar fraude na concessão das rodovias paulistas, o que rendeu até CPI na Assembléia Legislativa! A ISTOÉ publicou a matéria como exclusiva, mas era um “furo” do O MUNICIPIO!
Para a segunda edição “pegar” e aumentar a venda em banca ( já tínhamos mais assinantes, mas a concorrência ainda vendia o dobro) e fazer com que o assinante aceitasse dobrar o preço da assinatura sem reclamar, ou cancelar, começamos a fazer promoções. Primeiro foi uma série de livros que eram ofertados como brindes pagando um pouco mais – como o que acontece até hoje com os grandes jornais e revistas. Os assinantes ganhavam a coleção na renovação, pagando a metade do valor da banca. A primeira seleção foi com clássicos da literatura que eram adotados nas escolas e portanto, meio que obrigatório. Depois publicamos uma outra coleção ( com menor sucesso) de livros de romance e depois, filmes em VHS.
As perspectivas eram tão animadoras que o dr. Joaquim encontrou uma empresa que entregava revistas Abril na região e começou a colocar jornais em pelo menos uma banca em todas as cidades em que a empresa entregava as revistas ( Acho que eram 16). A distribuição era gratuita nestes locais e havia jornal até no Sul de Minas. A que mais saía era a banca de Poços de Caldas. A idéia era depois vender anúncios e fazer o jornal se tornar regional. Em Aguaí, o O Município chegou a comprar um jornal local e distribuíamos os dois juntos. Chegamos a imprimir por edição, nesta época, mais de 12 mil exemplares. Também neste ano, comecei a fazer um programa de Rádio que chamava “ O Município no AR”. Era na rádio Piratininga, no sábado de manhã. E era o máximo. O programa anunciava as manchetes, comentava os fatos que estavam no jornal e levava pessoas que davam entrevista no jornal para serem entrevistados no rádio. Era meia hora de programa, ao vivo, com o microfone aberto para o ouvinte interagir e ele não parava de tocar. A rádio naquele tempo tinha uma audiência absurda. Era muito gostoso de fazer.
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1 comentários:
uauuuu!!! estou adorando!!!
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